Tanto tempo… quase nada

Por Ricardo Azinhaga (*)

Há muitíssimos anos, quando José Eduardo dos Santos já ocupava o trono dourado em Angola, um amigo, poeta e romancista, publicou, na Revista Dar-te, um pequeno conto que serve de metáfora  para caracterizar  o percurso e as atitudes e comportamentos oportunistas do presidente angolano:

– Quando o General soube da revolução, na capital, ordenou às suas tropas que disparassem em sentido contrário.

É este o tipo de personalidade do ditador que ocupa o poder, há mais de três décadas, em Angola. Este período, demasiado longo, demonstra que ele é um individuo incoerente, incompetente e com uma visão e uma missão ao sabor das modas que lhe facilitam maiores benefícios financeiros, pessoais, familiares e da alcateia que o rodeia.

Este novo-rico da selva de Luanda é o mesmo que defendeu, a ferro, fogo e sangue, o socialismo, por alguém descrito como sanzaleiro, e, quando as coisas correram para o torto nas terras de Vladimir Putin, passou a ser o ideólogo do capitalismo selvagem, que designa por socialismo democrático, também este defendido a ferro, fogo e sangue, com a nova variante, ainda mais macabra, com a colaboração dos jacarés,  de duas e de quatro patas.

Ele ficou famoso, durante o período do socialismo sanzaleiro, pelo Angolagate. No período posterior, o do capitalismo selvagem, o seu prestígio é ainda mais nojento, com o enriquecimento desonesto e descarado dos seus familiares e colaboradores mais directos.

Esta personalidade é apresentada, repetida e cansativamente, como o Arquitecto da Paz. Nós acrescentaríamos: o Arquitecto da Paz Podre. Durante a guerra civil e no período posterior, o da guerra cleptocrática, ele foi sempre capaz de reunir um grupo de kapangas, nacionais e estrangeiros, pagos com trinta-dinheiros, para protegerem a sua paz, pessoal, dos familiares e dos amigos e colaboradores directos, copiando os modelos de Putin, inspirados na escola do Estaline o do KGB.

Muitos dizem que Zédu é muito querido e venerado no seu país, tal como o Putin é na Rússia.  A história, infelizmente, demonstra que foram muitos os ditadores que conquistaram popularidade nos seus países, através da demagogia e do medo, e, assim, obtiveram toda a liberdade para cometerem crimes contra a humanidade, como os que ocorreram em Angola durante as últimas três décadas e meia, no reinado do José Eduardo dos Santos.

A sua cobardia é de tal modo gritante que, no planeamento social, dá prioridade ao armamento dos seus exércitos e de cães de guarda,  pessoal, dos familiares e dos amigos, em vez de evidenciar uma visão e uma missão de planeamento social inteligente, sustentado e justo,  para todos os cidadãos do país. Os índices de desenvolvimento social e de qualidade de vida da grande maioria dos cidadãos de Angola  são, como todos sabemos, vergonhosos.

É este o mesmo senhor que, durante a semana que agora finda, criticou a gestão dos governadores de Luanda, afirmando que os musseques estão a crescer, vergonhosamente, na capital do país. Não é essa a ideia que os seus arautos, pagos a peso de ouro, nos órgãos de informação oficiais, tentam transmitir, nas suas acções de propaganda, que envergonham o verdadeiro jornalismo.  Diz ele que “aumentaram os musseques que herdámos do tempo colonial”. Então o que andou ele a fazer durante tantas décadas, no período pós-colonial?  Ou estarão os angolanos a viver noutro tipo de colonialismo?

…a guerra já está demasiado diluída como desculpa para tanta prepotência, incompetência e injustiça social.

O Governador Provincial é o representante da Administração Central, em obediência à estrutura definida  na Constituição da República.  Quer isso dizer que a Administração Central, que gasta milhões nas celebrações dos aniversários de Zédu, que poderiam ser utilizados na construção de habitações sociais para alojarem os residentes nos musseques, é incompetente, sanzaleira, corrupta, graças às normas do socialismo sanzaleiro e do capitalismo cleptocrático inventados pelo Presidente de Angola.

José Eduardo dos Santos, como Presidente de Angola, é um fracassado padecendo de um narcisismo matumbo, um oportunista que aguarda a próxima revolução para “mandar os seus soldados dispararem em sentido contrário”, voltando a trocar de ideal.

Ele deverá encontrar, urgentemente, colocação num Centro de Idosos, porque os que hoje em dia o veneram e bajulam vão ser, brevemente, os primeiros a cortarem-lhe na casaca.

Senhor José Eduardo dos Santos, reforme-se. Não faça mais mal a Angola. Os colonialistas, da Administração Central a que preside, só servem para fazer crescer o número e as dimensões dos musseques, habitacionais e mentais, em Luanda e no resto do país. Este seu paternalismo partidário é inibidor do desenvolvimento nas mentalidades de um sentido crítico construtivo, próprio das sociedades mais modernas e justas.

(*) P.G.  Gestão de Recursos Humanos – EUA

Artigos Relacionados

Leave a Comment